terça-feira, dezembro 26, 2017

10 FILMES DE 2017 [4]
— Andrei Konchalovsky


[ Kathryn Bigelow ]  [ Martin Scorsese ]  [ Pablo Larraín ]

O silêncio que se abateu sobre o filme de Andrei Konchalovsky, Paraíso, envolve muitos e angustiantes factores que vão desde a vulnerabilidade de estreias que acontecem em apenas duas ou três salas, sem qualquer protecção publicitária, à volubilidade de um público que, em muitas das suas faixas (sociais ou etárias), perdeu o gosto da procura e da descoberta. Sejamos claros, quand même: Konchalovsky refaz as memórias do Holocausto através de um dispositivo de três personagens — um colaboracionista francês, uma aristocrata russa que ajuda a Resistência em França e um oficial das SS alemãs — que não satisfaz as convenções de nenhuma retórica histórica ou política. Retomando uma riquíssima herança do cinema da Rússia (e também da sua literatura), o autor de Siberíade (1979) e Os Amantes de Maria (1984) encena as convulsões desumanas das relações humanas, numa vertigem em que o próprio "sentido da história" parece ameaçado pelo apocalipse das significações. Tudo isso contado num preto e branco que, muito longe de qualquer nostalgia "estética", nos recorda que há no cinema uma energia primitiva que importa não deixar morrer — e, tanto quanto possível, tentar merecer.