sábado, novembro 18, 2017

"Liga da Justiça": mais do mesmo... (1/2)

Na guerra dos super-heróis, Liga da Justiça é o novo episódio: os milhões de dólares acumulam-se e as ideias escasseiam — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Novembro), com o título 'Batman, Super-Homem & Cª. voltam a salvar o planeta Terra'.

O planeta dos super-heróis vive angustiado desde que, em 2016, em Batman v. Super-Homem: O Despertar da Justiça, assistimos à morte de Super-Homem... Ou talvez não... Em qualquer caso, o esclarecimento de tal dúvida seria um dos pontos enigmáticos de Liga da Justiça, filme de Zack Snyder ruidosamente promovido como uma celebração dos principais heróis da DC Comics, incluindo Batman e Wonder Woman. Seria, de facto... Acontece que, desde a divulgação do elenco até ao trailer do filme, passando pelas fotos promocionais, sabíamos do regresso de Henry Cavill como intérprete do lendário sobrevivente do planeta Krypton.
Qual é, então, a surpresa? Pouca ou nenhuma, infelizmente. Este modelo de filmes entrou numa lógica de sequelas repetidas e repetitivas, muito distantes da energia criativa do começo da sua “idade moderna”, iniciada com Batman (1989) e Batman Regressa (1992), ambos de Tim Burton.
Estamos, afinal, perante os efeitos mais grosseiros do conceito corrente de “franchise”, alicerçado em orçamentos ditirâmbicos (Liga da Justiça custou 300 milhões de dólares) cujos dramas de rentabilização ameaçam toda a estrutura de Hollywood. Com um detalhe que importa sublinhar: quem começou por chamar a atenção para o risco de “implosão” da indústria não foi nenhum crítico, antes dois cineastas não propriamente desconhecidos — Steven Spielberg e George Lucas —, num debate realizado no dia 12 de Junho de 2013 na Escola de Artes Cinematográficas da Universidade da Califórnia do Sul.
O mais desconcertante é a perda do gosto mais clássico de contar histórias. Liga da Justiça deixa-se resumir pela mais escassa sinopse. A saber: um exército de terríveis alienígenas, comandado pelo implacável Steppenwolf (Ciáran Hinds), prepara-se para conduzir o planeta Terra ao apocalipse... Enfim, não será preciso especular muito para adivinhar o que farão os heróis. O certo é que tudo isso se resolve com a previsível destruição de um sem número de cenários digitais, aqui e ali “sustentado” por embaraçosos diálogos, capazes de transformar as situações mais trágicas em momentos involuntariamente anedóticos. Isto sem esquecer o subaproveitamento de intérpretes de invulgar talento, com destaque para Amy Adams, claramente à deriva no papel de Lois Lane, eterna “noiva” de Clark Kent.

[continua]