sexta-feira, novembro 17, 2017

A guerra dos sexos [citação]

[FOTO: Sophie Zhang]
>>> Parece-vos paradoxal, utópico, num mundo globalizado, uniformizado, banalizado, robotizado, evocar a eventualidade de uma actividade criadora dos sujeitos sexuados que somos? Ela existe, e desenvolve-se mesmo, como contra-peso à banalidade que é o mal moderno. E é nessas margens de pequenas inovações, que nos impedem de morrer de banalidade, que procuramos realizar os nossos elementos de genialidade, talvez émulos patéticos dos génios consagrados através dos séculos. O mais pequeno esforço de originalidade, a mais pequena proeza de novidade, não nos exigem que nos reinventemos? Assim, para além da própria bissexualidade psíquica, seja sujeito homem ou sujeito mulher, eu recrio-me até à minha identidade sexual numa plasticidade aberta a inusitadas metamorfoses: com Rimbaud, eu é um outro — homem, mulher, criança, planta, animal, estrela. E, com Colette, transformo-me na carne do mundo.

JULIA KRISTEVA
2016