domingo, abril 02, 2017

Yevgeny Yevtushenko (1933 - 2017)

Figura lendária e polémica da poesia e das artes soviéticas e russas, Yevgeny Yevtushenko faleceu em Tulsa, no estado americano do Oklahoma, no dia 1 de Abril — contava 84 anos.
A sua obra imensa, incluindo trabalhos ensaísticos e cinematográficos, tem o seu capítulo essencial na escrita, tanto mais que muitos dos seus poemas desempenharam um importante papel simbólico na denúncia do estalinismo. Datado de 1961, Babi Yar, intitulado a partir do nome de uma ravina próximo de Kiev, na Ucrânia, será, por certo, um dos mais célebres — Yevtushenko evocava o massacre de milhares de judeus, em 1941, pelas tropas alemãs, ao mesmo tempo protestando contra o facto de o Kremlin resistir à edificação de um monumento evocativo do massacre (alegando que algumas vítimas não eram de origem judaica); Babi Yar seria um elemento fundamental de inspiração para Dmitri Shostakovich compor a sua 13ª Sinfonia, cujo andamento de abertura, Adagio, se intitula, precisamente, 'Babi Yar'. Eis um extracto da tradução inglesa do poema e um registo do Adagio de Shostakovich.

There are no monuments over Babi Yar.
But the sheer cliff is like a rough tombstone.
It horrifies me.
Today, I am as old
As the Jewish people.
It seems to me now,
That I, too, am a Jew.


Por vezes acusado de cultivar uma atitude ambígua em relação ao poder soviético, como tal desfrutando de um estatuto de artista "oficioso" do comunismo, o certo é que Yevtushenko não deixou de assumir posições críticas em relação ao regime, nomeadamente recusando integrar a campanha contra Boris Pasternak (na sequência do Nobel que o consagrou em 1958) e condenando as invasões da Checoslováquia e do Afeganistão, respectivamente em 1968 e 1979. Em 1990, realizou o filme O Funeral de Stalin — eis os dez minutos de abertura, provenientes de uma passagem na televisão italiana.


Entre as distinções que recebeu, incluem-se o Prémio de Estado da URSS (1984), pelo poema "A Mãe e a Bomba de Neutrões", e o Prémio de Estado da Federação Russa (2010). Desde 2007, dividia o seu tempo entre a Rússia e os EUA — na Universidade de Tulsa e no Queens College, em Nova Iorque, leccionava poesia europeia e história do cinema.

>>> Obituário no New York Times.
>>> Alguns poemas de Yevtushenko, traduzidos em inglês.