Escritor, ensaísta, poeta, argumentista de cinema, foi um pensador de todas as heterodoxias: o inglês John Berger faleceu no dia 2 de Janeiro, em Paris — contava 90 anos.
Estudou em Londres, na Chelsea School of Art e na Central School of Art, começando a expor as suas pinturas em finais dos anos 40 — continuou, aliás, a pintar em todas as fases da sua vida. Desencantado com a sociedade britânica, mudou-se para França, onde viveu desde os primeiros anos da década de 60. Especialmente influenciado pelo pensamento de Walter Benjamin, em particular as suas reflexões sistematizadas em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, concebeu a série da BBC em quatro episódios Ways of Seeing, emitida em 1972, propondo uma reflexão ágil e multifacetada sobre as nossas relações com as imagens, desde a pintura clássica até à publicidade — a série daria origem a um livro homónimo, hoje com estatuto de clássico (publicado entre nós como Modos de Ver, Edições 70). No mesmo ano, o seu romance G., uma narrativa picaresca situada na Europa de finais do séc. XIX, recebeu o Booker Prize.
O seu nome ficaria indissociavelmente ligado à "nova vaga" do cinema suíço, através dos argumentos em que trabalhou para três filmes de Alain Tanner: A Salamandra (1971), O Centro do Mundo (1974) e Jonas que Terá 25 Anos no Ano 2000 (1975) — este último, em particular, uma antecipação romanesca do nosso séc. XXI, pode servir de emblema do misto de racionalismo e utopia que perpassa no seu universo.
Com mais de quatro dezenas de volumes publicados, Berger foi alguém que, no dizer de Susan Sontag, soube cruzar a "atenção ao mundo sensual" com os "imperativos da consciência" [ler retrato de Philip Maughan]. Da fotografia às formas de representação dos animais, nada foi estranho ao seu olhar, tudo lhe servindo para motivar cada leitor a encontrar o seu.
>>> Os quatro episódios da série Ways of Seeing.
>>> Obituário na New York Times.
>>> Uma vida em citações [The Guardian].