Libération (22 Jan. 2017) |
O artigo de Daniel Schneidermann intitula-se: 'Trump : comment le traduire, le traiter, le titrer, etc.' [Trump: como traduzi-lo, tratá-lo, titulá-lo, etc.]. Ou seja: o jornalista do Libération recorda que o cliché segundo o qual vivemos num "mundo de imagens" pode e deve ser questionado nos seus limites. Mais exactamente, trata-se de confrontar o jornalismo com uma verdade interior tantas vezes menosprezada na selva dos links e da informação "instantânea": uma imagem vive sempre através da palavra.
A inquietação em torno da figura de Donald Trump leva-o mesmo a classificá-lo como "a monstruosidade Trump". Para logo a seguir introduzir uma dúvida metódica em relação à expressão utilizada: "Eis algo que nos descansa. Faz bem. E faz bem também, por certo, a alguns leitores. Mas irá desqualificar o que se segue aos olhos de outros leitores. Exercendo alguma contenção, poderia ter escrito apenas 'Trump'".
Grande e delicada questão, como são todas as questões de linguagem — tantas vezes menosprezadas por tantos jornalistas. Ou ainda: como lidar com o poder da oratória de Trump? Desqualificá-lo como medíocre ou manipulador corre o risco de se reduzir a um gesto "purificador" de boas intenções. A saber:
>>> Será necessário conservar toda a "oralidade"? Deixar em suspenso as frases não concluídas, as digressões, as repetições, deixar em estado informe o cozinhado verbal? Nada mais fácil do que destruir um entrevistado conservando na transcrição a sua oralidade bruta. Da oralidade à escrita, a passagem é sempre uma catástrofe. Nesse momento, o jornalista é todo poderoso. Conservando ou suprimindo um simples "euh", ele pode fazer passar o entrevistado por um génio ou um idiota. É uma das nossas pequenas armas secretas, de que nunca falamos.