A caracterização de Oliver Stone como um cineasta de "causas", eventualmente "militante", tende a passar ao lado das especificidades do seu olhar. Como é óbvio, Snowden não surgiu como uma viagem abstracta. Longe disso: o retrato de Edward Snowden prolonga uma visão das feridas interiores da América que já passou por títulos admiráveis como JFK (1991) ou Nixon (1995). Em todo o caso, importa sublinhar que o discurso político de Stone não pode ser dissociado de uma permanente discussão das potencialidades da imagem, ou melhor, do modo como o fotograma se assume como registo e signo da espessura do mundo. Assim, por exemplo, este momento de Corbin O'Brian (Rhys Ifans), ligado à formação de Snowden na CIA — o que ele expõe aos seus discípulos é a nova balança de poder entre a imprensa e o mundo virtual, entre a escrita do jornal e a escrita da programação informática. Como quem pergunta ao espectador: o que lemos quando lemos o que nos escrevem?