A vida mediática de Peter Doherty, muitas vezes parasitada pelos dramas da sua existência privada, não tem ajudado a que o seu trabalho seja escutado apenas pelo que nele acontece. O seu segundo álbum a solo, Hamburg Demonstrations, sete anos passados sobre Grace/Wastelands, aí está como uma prova esclarecedora do seu desencantado lirismo, certamente presente nas suas experiências com formações como The Libertines ou Babyshambles, mas ainda mais depurado e genuíno quando Doherty se exprime a solo.
Doherty é um trovador do absurdo à flor da pele, seja nas relações amorosas, seja na contemplação política do mundo à sua volta. A sua música expõe-se numa desamparada nudez simbólica que envolve, além do mais, um sentido de urgência e inacabamento das performances que faz lembrar a poética dos primeiros tempos dos Beatles... Et pour cause: afinal, Hamburg Demonstrations foi gravado naquela cidade alemã, nos estúdios Clouds Hill, em assumida homenagem ao pré-histórico período alemão da banda de Lennon & McCartney. A prova: escute-se I Don't Love Anyone (But You're Not Just Anyone), observando a sua delicada, e desenhada, concretização figurativa.
I don't love anyone
But you're not just anyone
You're not just anyone, to me
Anything, mostly everything
You drop an eyelash and finger from the wish
You live this way
And oh I'll never leave
yes I will
It seemed so cold
The luck a penny brings, means everything
When you kiss and cross superstitiously
Johnny comes marching home again, hurrah
Johnny comes marching home again, hurrah
Johnny comes marching home again
With this and that and a big bass drum
And they all come marching, over the hill from war
Anything, mostly everything
You drop an eyelash and finger from the wish
You live this way
And oh you'll never leave
She never would
It's just so cold