>>> Se o futuro está desvalorizado, isso deve-se ao facto de ter deixado de ser designado por um projecto, uma ambição colectiva, ou mesmo uma ideologia. Em termos de representação, tornou-se aleatório, enigmático, indecifrável. Deixou de marcar o presente.
Desta tacteante incerteza temporal, testemunham mil sintomas. A ruína das instituições não será o menor. Que se pense, por exemplo, na crise da escola, lugar-comum mediático, debate repetido e tema inesgotável. No essencial, tal crise corresponde, em definitivo, a uma crise de transmissão à qual o carácter ilegível do futuro não é estranho. Que transmitir? Em que perspectiva? Através de que género de projecto colectivo? Eis perguntas às quais se tornou difícil responder. Como a família, a escola sofre da incerteza do tempo e mostra-se incapaz de assumir o seu próprio poder genealógico. Deixou de conseguir inscrever o indivíduo sem pertença na continuidade de uma história. Tem dificuldade em transmitir uma herança, tanto quanto em designar um futuro. Na verdade, encontra-se subvertida pela ditadura do instante...
JEAN-CLAUDE GUILLEBAUD
Éditions du Seuil, 1998