>>> People say that I'm controversial, but I think the most controversial thing I have ever done is stick around.
Strike a pose! Justamente: uma pose. Esta é pose séria de Madonna Louise Ciccone. E podem crer que ela não a assume de forma ligeira. Foi no dia 9 de Dezembro, na cerimónia em que recebeu o prémio de "Mulher do Ano", atribuído pela revista Billboard. Ao longo de 10 prodigiosos minutos de palavras frias e confessionais, convulsivas e contundentes, a eterna 'Material Girl' achou por bem explicar o que é, e como é, enquanto radical 'Material Woman'.
Evocando de forma crua as convulsões dos seus primeiros tempos em Nova Iorque ("violada no terraço de um prédio com uma faca apontada à garganta"), algumas reacções ao seu livro de 1992, Sex ("chamaram-me puta e bruxa"), e o princípio existencial e artístico formulado com Ray of Light (1998), logo após o nascimento da sua filha Lourdes ("não podia continuar a ser uma vítima"), Madonna fez um tocante auto-retrato. Tratou-se, em última instância, de uma desencantada reflexão sobre um mundo de procura e exigência artística em que "não há regras", como aprendeu com a sua musa (David Bowie), mas em que "não há regras... quando se é um homem". Daí a sua afirmação como uma feminista sem clube ou partido, estranha a esse feminismo chique em que as mulheres parecem não ter sexo, nem outra vocação que não seja decorar e confirmar uma paisagem dominada pelas formas masculinas de violência — ou seja: "uma má feminista".
Sem registo discográfico editado em 2016, Madonna está fora de qualquer corrida ao top de melhor álbum do ano — é dela, hélas!, o discurso do ano.