segunda-feira, julho 25, 2016

Freud — pequenos almoços e pintura

Eis um livro biográfico que escapa aos modelos mais tradicionais da biografia. Primeiro como jornalista, depois como personagem de um círculo muito restrito de relações, Geordie Greig conviveu com Lucian Freud (1922-2011) ao longo de cerca de duas décadas. O seu livro chama-se Breakfast with Lucian porque, de facto, grande parte dessa convivência aconteceu em pequenos almoços que correspondiam a um ritual privado, mais ou menos improvisado, embora não excluindo uma espécie de sofisticada pesquisa existencial.
Falava-se de pintura, claro — Freud nunca deixou de afirmar a sua fidelidade à figuração, contrariando o efeito estético, e também a lógica de mercado, que abalou sobretudo os anos 60 (aliás, valendo-lhe o epíteto de artista irremediavelmente datado). E falava-se também das atribulações de uma vida de muitas convulsões afectivas, familiares e sexuais (não necessariamente por esta ordem). Acima de tudo, Greig consegue reunir memórias de Freud — desde a herança simbólica do avô Sigmund até às dificuldades de relação com os seus 14 filhos — que nunca se enredam no pitoresco mais ou menos "voyeurístico". Em última instância, este é um livro para acedermos à pintura de Freud e ao esplendor paradoxal do seu realismo cru.

Naked Child Laughing
1963