O espanhol José Luis Guerin continua a percorrer os caminhos sedutores da "ficção documental" — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (23 Junho).
Onde acaba o documentário e começa a ficção? Velha questão cinematográfica e cinéfila que a história dos filmes vai retomando e, por assim dizer, reinventando. O espanhol José Luis Guerín gosta de a reformular num misto de precisão realista e distanciação irónica (lembremos o magnífico Comboio de Sombras, lançado em 1997). Agora, com A Academia das Musas, Guerín coloca em cena o quotidiano de um professor de filologia da Universidade de Barcelona que discute com as suas alunas as relações do amor com a linguagem (foi a literatura que inventou o amor, diz-se a certa altura...), envolvendo-nos num turbilhão de factos e emoções, palavras escritas ou faladas, que desemboca num conto moral sobre o masculino e o feminino: será que o papel amoroso, sexual e simbólico das mulheres foi, historicamente, a maior parte das vezes, dito e escrito por homens?
Eis um filme fascinante que nos ajuda a compreender a futilidade dos mais recentes super-heróis: aqui, o verdadeiro efeito especial é o desejo de conhecer e a vontade de compreender. E a sua velocidade é vertiginosa.