Há oito anos que o Brasil não surgia na secção competitiva de Cannes. Regressa agora com Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, filme que consegue três proezas enredadas umas nas outras:
1 - dar conta de uma situação de crise social a partir de um sugestivo microcosmos (uma mulher que quer conservar o seu andar, num prédio de nome 'Aquarius', resistindo às investidas de uma poderosa empresa de construção);
2 - definir uma curiosa galeria de personagens capazes de reflectir as mais diversas posições sociais, sem se esgotar em "simbolismos" mais ou menos deterministas;
3 - relançar Sónia Braga, não numa qualquer variação "juvenil", antes oferecendo-lhe um papel que faz jus à sua idade, ao mesmo tempo valorizando a sua capacidade de composição.
Se é verdade que os efeitos mais ou menos consensuais se podem reflectir no palmarés, então não será arriscado prever que Aquarius sairá de Cannes com algum prémio.