Que é, afinal, fazer a biografia de alguém? Para mais, se o biografado tiver a dimensão literária, política e mitológica do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973)? A resposta de Pablo Larraín, no seu admirável Neruda, envolve o reconhecimento de que biografar consiste em ocupar o lugar do outro, permanecendo o mesmo, desse processo nascendo um jogo de espelhos e contaminações que pode questionar todos os valores de cada um dos envolvidos. Para mais quando o biógrafo de Neruda (Luis Gnecco) é o polícia (Gael García Bernal) que o persegue durante a agitação política de finais da década de 40 — cinema de invulgar inteligência narrativa.