Uma pérola da filmografia de Max Ophüls reapareceu no mercado — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 Janeiro), com o título 'Clássico de Ophüls lançado em DVD'.
Crise do DVD? É o que proclamam muitos especialistas... Em todo o caso, convém dizer que o mercado português chegou a um insólito paradoxo: por um lado, há um claro desinvestimento na promoção da maioria dos seus produtos; por outro lado, a sua notável diversidade merece que o cinéfilo mais exigente continue a prestar-lhe a devida atenção.
Max Ophüls |
Aí está mais uma prova eloquente. É certo que estamos a falar de um DVD (ed. Films4You) que não contém menus de navegação nem contempla a possibilidade de retirar as legendas (aspectos que, a meu ver, contribuem para “desvalorizar” a edição junto do consumidor). Seja como for, a possibilidade de vermos ou revermos O Prazer (1952), de Max Ophüls, é sempre um especial acontecimento.
Trata-se do antepenúltimo título de Ophüls, realizado em França depois do seu período em Hollywood; os dois títulos finais continuam a ser, aliás, os mais conhecidos da sua filmografia: Madame De... (1953) e Lola Montès (1955). Adaptando três histórias de Guy de Maupassant, narradas pelo autor (numa interpretação de Jean Servais), O Prazer integra alguns dos nomes grandes do cinema francês da época (Danielle Darrieux, Pierre Brasseur, Jean Gabin, etc.) para nos confrontar com uma visão tão desencantada quanto pragmática dos impulsos amorosos, celebrando a difícil arte de aceitação dos desejos do outro. Tudo isto, convém sublinhá-lo, numa edição de magnífica qualidade técnica, preservando, em particular, as nuances da admirável fotografia a preto e branco.