quarta-feira, janeiro 27, 2016

Novas edições:
Peter Astor, Spilt Milk

Militou pelos The Loft e Weather Profets, nomes que ajudam a contar a história pop/rock indie britânica dos oitentas e que podemos associais a primeiros passos da Creation Records. Mais tarde formaria os Wisdom of Harry e o coletivo instrumental Ellis Island. Foi contudo na alvorada dos anos 90, quando pela primeira vez se apresentou a solo, com Submarine (1990), que nos deu o seu disco de referência, uma brilhante coleção de canções que cruzam um registo storyteller de escritor de canções com uma música não minimalista, mas ciente daquela máxima que defende que o pouco pode ser muito. Ali havia sinais de personalidade na forma de usar as palavras e uma vontade evidente em seguir o trilho mais clássico de uma música que tinha no diálogo entre as guitarras e a voz a medula da sua identidade.

Ao sublime disco de 1990 (que é uma pérola esquecida dos noventas e merece ser redescoberto) juntou capítulos de continuidade em Zoo (1991), Paradise (1992, editado como Peter Astor & Holy Road) e God and Other Stories (1993), que fecha um ciclo de produção regular e intensa, mais aclamado por quem o escutou do que feito sucesso (e convenhamos que os climas ora lançados ao festim indie dançável da alvorada dos noventas, o shoegaze, o acid jazz e o emergir do trip hop, que estavam na mira das atenções, não eram destinos pelos quais esta música passasse).

Seguiu-se um hiato feito a bordo de outras bandas, regressando aos discos em nome próprio em Hal’s Eggs (2004), mas com um “R” a menos no nome – passa a assinar como Pete Astor –  Songbox (2011), sendo o novo Spilt Milk o mais recente episódio deste trilho agora mais tranquilo no ritmo de lançamentos mas, ao mesmo tempo, representando aquele que mais parece querer retomar as linhas pelas quais Peter Astor fazia as suas canções na alvorada dos noventas.

O músico, que desde há alguns anos tem um percurso académico em musicologia na Universidade de Westminster e que tem partilhado a escrita de música com a de artigos sobre música (assinou inclusivamente em 2014 um volume para a série 33 1/3 sobre o clássico Blank Generation de Richard Hell & the Voidoids, uma peça pioneira do punk nova iorquino), apresenta em Spilt Milk um disco que na verdade só entorna o leite no título.

Este é um disco de canções simples, de arranjos minimalistas focados nos mais clássicos diálogos que o músico tem travado com as guitarras (acústica e elétrica). Gravado em casa, com a ajuda de uma equipa mínima, e letras feitas de coisas do dia a dia, o álbum pode não traduzir aquele sonho de Alan McGee (o fundador da Creation) que via em Peter Astor o “novo Dylan”. Mas recorda-nos um grande autor e intérprete e tem aqui o seu melhor disco em 25 anos.