21 de Outubro de 2015 tornou-se um dia mitológico na história do cinema a partir do momento em que Marty McFly (Michael J. Fox), proveniente do ano de 1985, viajava no tempo e "aterrava" nessa data — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 Outubro).
Se o nosso gosto cinéfilo envolver alguma forma de fé, podemos acreditar que hoje mesmo [21-10-2015] temos a possibilidade de conhecer Marty McFly. Quem? Pois bem, a personagem de Michael J. Fox na saga Regresso ao Futuro, de Robert Zemeckis.
Seria (ou será) num momento muito preciso: 16h 29m. Isto porque no filme Regresso ao Futuro II, era nesse horário que McFly desembarcava no dia 21 de Outubro de 2015, viajando no espectacular DeLorean, o carro/máquina do tempo inventado pelo seu companheiro de viagem, Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd). McFly e Brown provinham de 1985 e chegavam ao futuro (este nosso presente) para tentar alterar os dados que podiam conduzir à prisão do filho de McFly (também interpretado por Michael J. Fox). Enfim, as coisas estavam longe de ser tão simples (?) porque, entretanto, o “mau da fita” Biff Tannen (Thomas F. Wilson) lhes roubava o DeLorean, recuando a 1955 para baralhar os dados e comprometer o futuro de toda a gente...
Na história das franchises do cinema americano das últimas décadas, a trilogia de Regresso ao Futuro é, por certo, uma das mais lendárias (e também das mais rentáveis, aproximando-se dos mil milhões de dólares de receitas globais). Em boa verdade, quando surgiu o primeiro título, em 1985, Zemeckis não tinha previsto novos capítulos das aventuras de McFly. O certo é que o sucesso do filme abriu essa possibilidade, de acordo com uma lógica que, para o melhor ou para o pior, estava a triunfar em Hollywood. Nessa altura, por exemplo, Tubarão (1975), de Steven Spielberg, já tinha dado origem a duas sequelas (não dirigidas por Spielberg).
Sempre com a colaboração de Bob Gale nos argumentos, Zemeckis começou por assegurar a participação de Michael J. Fox e Christopher Lloyd. Depois, o estúdio produtor, Universal, aceitou o projecto de rodagem sucessiva de dois novos filmes, desse modo acabando por rentabilizar cenários e reduzindo os custos globais de produção: Regresso ao Futuro II surgiria em finais de 1989 e Regresso ao Futuro III no Verão do ano seguinte.
A “coincidência” de Regresso ao Futuro II com o nosso presente tem suscitado as mais variadas formas de comemoração. E não há dúvida que o filme conseguia antecipar algumas significativas transformações tecnológicas, desde os ecrãs planos montados em paredes até aos óculos de realidade virtual. Há mesmo uma cena em que, através de um ecrã, meio televisão, meio computador, McFly participa numa insólita vídeo-conferência em que o uso de alguns dados pessoais parecem corresponder a uma espécie de primitiva “rede social”.
Entre as invenções que, de facto, nunca aconteceram, há automóveis voadores, uns divertidos sapatos Nike cujos laços se apertam automaticamente e até uma forma de pagamento através do reconhecimento do polegar. Em qualquer caso, os objectos mais míticos de toda a saga Regresso ao Futuro serão os chamados hoverboards (skates voadores); a curiosidade que suscitaram deu origem a muitas especulações sobre a sua existência, tanto mais que, nos extras de uma edição em DVD, Zemeckis decidiu dizer com um ar muito sério que existiam realmente e não eram um efeito especial...
Nos EUA, o “Dia Regresso ao Futuro” [21] está pontuado pelas mais diversas promoções do futuro que não aconteceu, incluindo uma embalagem de Pepsi igual à que se vê no filme. Tendo em conta que, em 2015, McFly observava a fachada de um cinema a anunciar a exibição de “Tubarão Parte 19” (de facto, só se fizeram quatro, incluindo o original de Spielberg), os estúdios da Universal lançaram mesmo um trailer paródico [video] promovendo Jaws 19... É caso para dizer que Regresso ao Futuro deixou de estar à frente do seu tempo para se diluir, festivamente, no nosso.