1. Um dos aspectos mais bizarros e, no limite, mais preocupantes da prática quotidiana da televisão é a sua regular incapacidade de pensar as imagens, as suas próprias imagens. Por vezes, não sabendo sequer sustentar e defender as matrizes que, melhor ou pior, definem a sua identidade.
2. Exemplo desconcertante de hoje foi a entrevista de Judite de Sousa a Bruno de Carvalho, na TVI, no mesmo contexto em que habitualmente intervém Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, mesmo que possamos não admirar os pressupostos filosóficos e mediáticos do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, é um facto que, pelo seu regular impacto, ele corresponde a uma das fundamentais imagens de marca daquele canal — imagem que integra um determinado espaço cenográfico. Daí a pergunta: que sentido faz colocar outra pessoa no mesmo cenário?
3. A presença de um dirigente do futebol (Bruno de Carvalho ou qualquer outro — para o caso, é indiferente) no espaço emblemático de um comentador político envolve uma desqualificação — cénica e simbólica — do próprio comentador. Assistimos, assim, ao renovado triunfo discursivo das personagens do futebol em todas as frentes televisivas, a começar pela informação. De tal modo que o futebol se apresenta sacralizado como uma matéria de ocupação de espaços — e de modo muito literal: na vida urbana como no próprio ecrã televisivo.