1. As fotografias de Lara Stone assinadas por Juergen Teller constituem um pequeno grande acontecimento visual e simbólico [System Magazine].
2. Não é fácil falar sobre elas, quanto mais não seja porque vivemos sob a ditadura iconográfica de uma ideologia (ancorada em muitas formas de jornalismo) que, cada vez que se depara uma imagem de nu, instaura uma espécie de circo de feras em que somos compelidos a desenhar uma fronteira entre a "norma" e o "escândalo", o "puro" e o "impuro" — trata-se, aliás, da ilustração corrente dessa obscenidade que Roland Barthes nos ensinou a reconhecer como uma forma de censura que não interdita, antes "obriga a dizer".
3. Que fez, então, Teller? Convocando a mais primitiva exigência do realismo, fotografou Stone, cerca de um ano depois de ter sido mãe, dispensando o tratamento de photoshop. O resultado é tanto mais directo — e, apetece dizer, sincero — quanto estamos perante alguém que conhecemos, sobretudo, através dos mecanismos de encenação da fotografia de moda.
4. Não se trata, entenda-se, de demonizar o glamour. Importa resistir a qualquer cinismo do género. Importa, sobretudo, recusar submeter o nosso olhar a qualquer unicidade visual. Acontece que o trabalho de Teller, com a cumplicidade da pose de Stone, nos permite compreender o relativismo de qualquer modelo de figuração (fotográfica, neste caso) — o corpo é uma entidade instável, hélas!
5. No limite, Teller desdramatiza a nudez, qualquer forma de nudez. O corpo nu não diz "mais" (nem "menos") do que o corpo com adereços: é apenas uma variação de código figurativo porque, em boa verdade, nenhuma imagem é a reprodução automática de qualquer estado natural. Ou ainda: o natural é sempre cultural.