Ted Sarandos (CANNES, 15-05-2015) |
De que a modo a Netflix está a mudar a televisão, quer dizer, o cinema?... A presença de Ted Sarandos em Cannes deixou algumas pistas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 Maio), com o título 'A China aqui tão perto'.
Como tem sido amplamente noticiado, sobretudo pelos meios de comunicação americanos que cobrem a industria audiovisual, Ted Sarandos, chefe de conteúdos da plataforma Netflix (filmes e séries em streaming ao serviço de mais de 30 milhões de assinantes), tem sido uma das figuras centrais do Mercado do Filme [notícia + video], a decorrer paralelamente ao Festival de Cannes.
Dando conta do empenho da Netflix em adquirir cada vez mais filmes, incluindo os respectivos direitos globais de distribuição, Sarandos confirmou que está em marcha uma nova dinâmica comercial: esta plataforma televisiva pode transformar-se num parceiro fulcral do cinema, no limite estreando alguns títulos, não nas salas, mas nos ecrãs dos seus assinantes. Alias, tal envolvimento já esta a traduzir-se em diversos contratos de produção (um deles, por exemplo, com o comediante Adam Sandler).
Com o passar dos dias, foi possível compreender que o crescimento exponencial da Netflix pode transformar ainda mais o espaço televisivo. Isto porque Sarandos deu também a conhecer o próximo alvo da sua estratégia. Ou seja: o mercado chinês.
Tal hipótese não deixa de envolver alguma ironia, uma vez que os grandes estúdios de Hollywood sempre lutaram contra enormes resistências das autoridades da China (actualmente, a presença dos seus produtos é já significativa, embora submetendo-se a regras que, de forma muito rigorosa, limitam o número de lançamentos de filmes estrangeiros). Dir-se-ia que a Netflix poderá conseguir de forma relativamente rápida aquilo que a Disney e outros estúdios americanos demoraram muito tempo a conquistar. Sarandos revelou, por exemplo, que estão a ser discutidos acordos com serviços online, incluindo circuitos de streaming que já foram controlados pelo Exército do Povo. Não tenhamos dúvidas: para compreender a evolução do mercado televisivo, tanto quanto as suas crescentes interacções com o espaço do cinema, convém estarmos atentos aos negócios da Netflix.