Puro encantamento! No meio da agitação de Cannes, The Little Prince, de Mark Osborne, foi, por certo, dos filmes mais mal amados. Diferenças à parte, acredito que, com o passar dos anos, se dirá também que 2015 foi o ano em que as sessões extra-competição incluíram esta adaptação do livro de Antoine de Saint-Exupéry. É um objecto fabricado com um comovente respeito pelas frondosas memórias que estão envolvidas, inclusive no processo de produção: encenando a descoberta da personagem do Principezinho a partir das experiências de uma menina à beira dos exames para entrar na Academia, o filme divide-se em dois ritmos e duas formas de animação (digital para a história contemporânea, stop-motion para a história do livro). Corresponde, afinal, a uma experiência não alinhada com os padrões dominantes da Pixar e da Disney, o que, a par das suas singularidades artísticas, lhe confere um invulgar sentido comercial de risco.