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CRISTÓVÃO COLOMBO — O ENIGMA |
Apresentado no Rivoli/Porto (4 Maio) e na Cinemateca/Lisboa (5 Maio), o filme inédito de Manoel de Oliveira Visita ou Memórias e Confissões relança-nos na dimensão mais pessoal da sua obra — este texto foi publicado no Diário de Notícias (1 Maio), com o título 'O cineasta no seu espelho'.
Mesmo considerando o caso excepcional de Visita ou Memórias e Confissões, seria abusivo considerar que os mais de cinquenta filmes realizados por Manoel de Oliveira se organizam como uma história na primeira pessoa. Em todo o caso, por eles perpassa um gosto calculado pela exposição no espelho da própria obra. Dir-se-ia que, por realismo ou ironia, Oliveira se assume também como protagonista do seu cinema.
O caso mais óbvio é o de Porto da Minha Infância (2001), colecção de pessoalíssimas memórias que envolve a nostalgia dos primórdios do cinema. Aliás, Oliveira apresenta-se como figura paródica da sua evocação, partilhando com Maria de Medeiros uma cena de palco pela qual perpassa uma das suas mais depuradas crenças estéticas: a do teatro como elemento interior à vida vivida.

Mas terá sido em Cristóvão Colombo – o Enigma (2007) que Oliveira deixou um retrato de maior candura e emoção. Na companhia de sua mulher, Maria Isabel de Oliveira, o cineasta assume os traços de um investigador que procura desvendar esse enigma que envolve a figura histórica de Cristóvão Colombo, assim sublinhando o facto de também ele ter sido sempre um paciente e desencantado arqueólogo da identidade portuguesa.
Por uma ironia muito típica do seu universo, o filme mais genuinamente autobiográfico de Oliveira será aquele em que, por assim dizer, delega a sua personagem noutra pessoa: Marcello Mastroianni. Tem o título revelador de Viagem ao Princípio do Mundo (1997) e nele deparamos com Mastroianni a interpretar um realizador de cinema que quer desmanchar o novelo das suas próprias origens. Sem necessidade de sublinhados, Mastroianni usa um chapéu idêntico ao do realizador e chama-se... Manoel.