Através de títulos como Plataforma (2000), 24 City (2008) ou Histórias de Shanghai - Quem Me Dera Saber (2010), Jia Zhang-Ke tem sido um exemplar retratista da China, por assim dizer, forçando o realismo a integrar as perturbações de um delírio à beira do fantástico. No caso de Mountains May Depart, a sua solução tem tanto de observação metódica como de ironia política. Assim, seguimos as personagens principais (dois rapazes e uma rapariga) em 1999, celebrando as utopias do novo milénio, em 2014, reflectindo o presente da rodagem, e por fim em... 2025. O resultado é uma ficção científica em que a especulação, paradoxalmente, nunca abandona a mais rigorosa verosimilhança — a China como mãe silenciosa da angústia dos seus filhos.