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| AMOR DE PERDIÇÃO (1979) |
A sociedade portuguesa tem, em relação a Amor de Perdição (1979), uma dívida que, provavelmente, nunca será paga. Compelido pelas circunstâncias históricas e financeiras a aceitar o duplo formato filme/série de televisão, para mais em película de 16 mm (limitação superada pela notável direcção fotográfica de Manuel Costa e Silva), Manoel de Oliveira foi alvo de um processo de difamação que inscreveu efeitos profundos no imaginário cultural português (a começar pela estupidez dos lugares-comuns sobre os "planos fixos" e os "filmes longos"). O certo é que a adaptação de Camilo Castelo Branco é feita a partir de uma fundamental crença nos poderes (melo)dramáticos da palavra, de acordo com uma lógica anti-naturalista cuja fulgurância criativa permanece admirável. Certamente não por acaso, na mesma época em que insultavam Oliveira, as forças dominantes do audiovisual português acolhiam os estereótipos da telenovela (Gabriela e afins) como a obrigatória redenção da narrativa "transparente" — sabemos a miséria cultural a que isso nos conduziu.