1. Convenhamos que deixou de ser uma mera rotina. Tornou-se um fenómeno que merece análise jornalística. Porquê? Porque, pelos vistos, os jornalistas são os primeiros (os únicos?...) visados pelo marketing do filme Os Vingadores: A Era de Ultron.
2. Que acontece? Há meses, muitos meses, sou um dos que recebe pendularmente mails sobre esse filme. Informações? Nem tanto: a 3 de Março, enviaram-me um novo poster do Capitão América... a 16 de Março, um novo poster de Ultron... a 1 de Abril, uma descrição do Homem de Ferro e de Hulk... Hoje mesmo, 22 de Abril, aparece-me Scarlett Johansson com ar ameaçador a avisar que falta 1 semana...
3. As informações escritas (quando as há) são de uma pobreza franciscana, parecendo considerar que os jornalistas — incluindo essas perigosas personagens que são os críticos de cinema — têm idade mental de três anos (talvez dois e meio). Exemplo: O impetuoso, mas brilhante bilionário Tony Stark regressa ainda a lutar contra as consequências emocionais da Batalha de Nova Iorque, que aconteceu em "Os Vingadores". Tony agora financia o seu “dream-team” de super-heróis, num esforço contínuo para proteger o planeta das forças do mal que sabe que andam por aí. Stark carrega o peso do mundo nos seus ombros, o que o leva a juntar-se...
4. Será preciso dizer que o que está em causa não é o facto de este (ou qualquer outro filme) poder ser "bom" ou "mau"? O que está em causa é de outra natureza. É que, pelos vistos, as ideias dominantes de marketing se esgotam na noção de que quanto mais mails com muitos bonecos se enviarem aos jornalistas, mais ecos se produzirão, em especial na Net... Não duvido que a estratégia possa gerar resultados palpáveis, mas a proliferação de sites, blogs, plataformas (ou o que lhes quiserem chamar) que se limitam a reproduzir os materiais promocionais dos filmes não tem nada a ver com jornalismo.
5. O marketing não pode ser unilateralmente responsabilizado pela degradação de muitos padrões jornalísticos (mesmo quando tais padrões parecem poder adequar-se aos seus objectivos). Em todo o caso, seria interessante reflectir um pouco sobre as potencialidades das formas de difundir/vender filmes — creio que o marketing se enriqueceria com isso, e o jornalismo não ficaria indiferente. Assim, lamento muito, mas as "consequências emocionais da Batalha de Nova Iorque" é pouco.