Alex Garland estreia-se na realização com Ex Machina, um filme que relança os temas e assombramentos das histórias de seres humanos e robots — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 Abril), com o título 'Aventuras de uma mulher-robot num mundo de homens'.
Será que existe uma tradição cinematográfica centrada nas personagens de robots? A pergunta ressurge a propósito da estreia de Ex Machina, filme que marca a estreia na realização de Alex Garland, o autor do romance A Praia (filmado, no ano 2000, por Danny Boyle, com Leonardo DiCaprio no papel principal).
Ex Machina é, acima de tudo, um invulgar exercício cinematográfico — e tanto mais quanto sabe usar os mais modernos efeitos especiais de acordo com uma lógica bem diferente das correntes aventuras de super-heróis, visualmente menos agressiva e, no plano simbólico, muito mais subtil. Em todo o caso, não se pode dizer que o tema da convivência de seres humanos e robots seja uma novidade — podemos mesmo considerar que nele encontramos uma variante do confronto entre homens e máquinas que, em boa verdade, pontua toda a história do cinema.
Será preciso recuar aos tempos heróicos do cinema mudo e relembrar o exemplo fascinante da fábula futurista Metropolis (1927), de Fritz Lang, em que a personagem de Maria, interpretada pela lendária Brigitte Helm, era “duplicada” em forma de robot? E que dizer do insólito Gort, no filme O Dia em que a Terra Parou (1951), de Robert Wise, delicioso exemplo à beira do kitsch da ficção científica da década de 50 e dos seus cenários apocalípticos? Isto sem esquecermos, por exemplo, a personagem de Ash (Ian Holm) cujo corpo de fios e circuitos se revelava dramaticamente em Alien – O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott. Ou o imponente Arnold Schwarzenegger em O Exterminador Implacável I e II, ambos dirigidos por James Cameron, respectivamente em 1984 e 1991. Ou ainda esse robot infantil, frágil e comovente interpretado por Haley Joel Osment em A. I. – Inteligência Artificial (2001), de Steven Spielberg.