Benilde ou a Virgem Mãe (1975) |
Glória de Matos e Jacinto Ramos enclausurados na geometria rude e austera de Benilde ou a Virgem Mãe, por certo um dos mais fulgurantes e também mais esquecidos filmes de Manoel de Oliveira — adaptando a peça homónima de José Régio, o cineasta tocava no cerne de uma fantasia onírica cujas raízes são, hélas!, intensamente sexuais. Rodado nos estúdios da Tóbis, é um dos derradeiros exemplos daquilo que era (ou poderia ser) uma das bases de um cinema realmente pensado também na sua dimensão industrial. Quase ninguém o viu porque, por uma ironia macabra, digna de uma comédia do próprio Oliveira, estreou em Lisboa, na sala do Apolo 70, no dia 21 de Novembro de 1975... Hoje em dia, muitos respeitáveis cidadãos não saberão sequer identificar que, quatro dias mais tarde, houve um "25 de Novembro" político-militar, nem mesmo que existiu um cinema Apolo 70 — em todo o caso, vivemos num país em que toda a gente tem opiniões sobre Oliveira...