Como vai ser Neil Patrick Harris a apresentar os Oscars? É certo que experiência de outras cerimónias não lhe falta, mas há algum suspense para uma cerimónia marcada, como sempre, por fortes campanhas promocionais — este texto foi publicado no Diário de Notícias (21 Fevereiro), com o título 'Uma campanha para “melhor filme” custa cerca de 10 milhões de dólares'.
Numa investigação recente, desenvolvida pelo argumentista e produtor britânico Stephen Follows, ficamos a saber que os Oscars têm vindo a estreitar as suas próprias escolhas. Depois de analisar as datas de estreia (nos EUA) dos títulos nomeados para melhor filme do ano no período 2000-2014, Follows concluiu que mais de metade (56%) foram lançados em apenas dois meses (Novembro/Dezembro).
Escusado será dizer que esta dinâmica implica uma marginalização automática dos lançamentos dos restantes meses de cada ano, especialmente no primeiro semestre. Na mesma contabilidade, os primeiros quatro meses do ano representam apenas 2% do total: um para Janeiro e Março, zero em Fevereiro e Abril. Isto significa que a vitória de um título como O Silêncio dos Inocentes, lançado em Fevereiro de 1991, parece hoje virtualmente impossível (viria a ganhar cinco Oscars, incluindo o de melhor filme).
Na prática, instalou-se uma lógica perversa que leva os estúdios (pequenos e grandes) a fazer grandes investimentos promocionais em títulos concentrados nas últimas semanas de cada ano. E não estamos a falar de valores banais: no mesmo período, em média, o vencedor de um Oscar de melhor filme terá sido sustentado por uma campanha de 10 milhões de dólares.
Obviamente, os filmes não são “melhores” nem “piores” por causa da data em que chegam às salas. Seja como for, a situação atrás descrita implica um efeito de afunilamento das escolhas da Academia de Hollywood, de alguma maneira reforçado e, no limite, banalizado pelo modo como os outros prémios mais mediatizados (a começar pelos Globos de Ouro e BAFTA) parecem “antecipar” os Oscars. Nesse aspecto, aliás, não são necessárias grandes especulações estatísticas — basta acompanhar as notícias da temporada de prémios para verificar que nomeados e vencedores se repetem com surpreendente regularidade.
Podemos admitir que, nos EUA, a baixa regular das audiências televisivas para a cerimónia dos Oscars resulta, em parte, desse efeito de repetição. Nesta perspectiva, 2015 vai ser um teste interessante, até porque a presença de Neil Patrick Harris como apresentador permanece uma absoluta incógnita.