Recordando a idade de ouro do cinema americano, Hollywood in the 30s é um álbum em que a evocação cinéfila começa através de imagens desenhadas por Robert Nippoldt — este texto foi publicado no Diário de Notícias (13 Janeiro), com o título 'Hollywood e o seu “glamour” através do desenho'.
De uma maneira ou de outra, o glamour clássico de Hollywood — ou de Hollywood na sua idade clássica — faz parte da mais universal iconografia cinéfila. Por vezes, muito por acção de um jornalismo sem memória, o seu património surge reduzido a uma colecção de imagens banalmente publicitárias, sem espessura humana, desligadas de qualquer inscrição histórica ou ressonância simbólica. O primeiro e essencial mérito de um livro como Hollywood in the 30s (com edição original em alemão, já disponível em versões inglesa, espanhola e francesa) consiste em contrariar tais facilidades. E através de uma proposta que, não sendo absolutamente original, envolve uma opção pouco comum: a de figurar a imagética de Hollywood, não através de fotografias, mas de desenhos.
As ilustrações têm assinatura de Robert Nippoldt, desenhador alemão que ganhou fama internacional graças a um álbum de 2007 com características semelhantes, dedicado ao jazz da década de 1920, em Nova Iorque (Jazz im New York der Wilden Zwanziger). Através de um traço muito pessoal, combinando o realismo figurativo com uma capacidade de síntese que faz lembrar alguns universos da banda desenhada, Nippoldt celebra os mais emblemáticos actores dos anos 30 — Greta Garbo, Errol Flynn, Jean Harlow, Marlene Dietrich, Clark Gable, etc. —, ao mesmo tempo que evoca figuras marcantes das matrizes de espectáculo segundo Hollywood, como o realizador George Cukor, o director de fotografia William H. Daniels ou o compositor Erich Wolfgang Korngold.
Seja como for, este não é um álbum de ilustrações reunidas por razões meramente “decorativas”. O texto de Daniel Kothenschulte possui o mérito essencial de não escamotear a história em nome do glamour — aliás, como compreender o glamour sem ter em conta a pluralidade das suas configurações históricas?
Trata-se de evocar uma época de fascinantes atribulações, desde a consolidação do cinema sonoro até ao triunfo do Technicolor, em 1939, com E Tudo o Vento Levou. Afinal de contas, foi durante esses anos que Hollywood definiu um sistema de valores narrativos e simbólicos que continuam a sustentar uma ideia forte de espectáculo — e sem super-heróis a destruir cenários digitais...
Robert Nippoldt
Daniel Kothenschulte
Ed. Taschen