Abençoada inocência... No mesmo país em que é chique proclamar-se que os filmes de Manoel de Oliveira são feitos de intermináveis planos de 10 minutos, mesmo nunca os tendo visto (por vezes, fazendo gala da recusa de os ver), há maneiras de fazer televisão em que nos surgem planos de 45 minutos como este: duas almas sofridas, encurraladas num pequenino e desconfortável rectângulo digital, narram (?) um jogo de futebol...
O exemplo é da Benfica TV, mas já vimos o mesmo acontecer na Sporting TV. Pouco importa a origem — só mesmo por cego fanatismo se poderá pensar que é uma questão clubista que está em jogo. Trata-se, isso sim, de observar o esvaziamento de práticas & ideias a que chegaram alguns espaços televisivos, reduzindo um maravilhoso instrumento de trabalho e comunicação a um jogo pueril, involuntariamente caricato, de exploração desse mito absurdo do tempo real... Se o tempo real é isto, façam um esforço, dêem-nos algum irrealismo.