Em tempo de balanço do ano, estamos a apresentar algumas listas pessoais. E hoje apresentamos os discos e escolhidos pelo Vitor Belanciano, jornalista do Público. Ao Vítor um muito obrigado pela colaboração.
O meu 2014 à volta da música.
Gosto das manhãs. Agrada-me acordar e ouvir de imediato uma canção. Por norma repetem-se durante muito tempo. Das que ouvi mais este ano nessas condições constam “Blue” de Beyoncé e “Saber amar” de Adanowsky – retirada do álbum “Amador” que me tem acompanhado muito nos últimos dois ou três anos. É o meu disco preferido para o chuveiro, embora este ano também me tenha acontecido pôr a rodar “Cavalo” de Rodrigo Amarante de fio a pavio.
Mas o álbum que mais ouvi este ano foi provavelmente “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge” de Bruno Pernadas. Mal o João Paulo Feliciano mo deu a ouvir, ainda em 2013, fiquei de imediato rendido. Depois constatei o crescimento para o formato ao vivo, assistindo a um ensaio e a dois concertos – no Maria Matos e em Viseu – e confirmei que é realmente música preciosa.
Foi um bom ano para a música que se vai fazendo aqui. Embora ainda não se perceba se existe emancipação ou simples reacção defensiva a um contexto exterior que nos parece inatingível ou confuso. Até do ponto de vista do som isso se sente: somos melhor a exprimir desamparo, zanga ou catarse, mas temos dificuldade na construção generosa que não espera nada em troca. Não só por isso, mas também por isso, soube bem ver o êxito de Capícua ou a actividade da Príncipe e a forma como Marfox ou Nigga Fox foi conquistando o seu lugar.
No Verão, enquanto percorri o país de lés a lés, ouvi imenso a canção “Can’t do without you“ de Caribou, e durante o ano vi muitos concertos, claro. Depende de tanta coisa. Do lugar e das pessoas com que estamos, por exemplo. Vi Nils Frahm no Sónar de Barcelona e gostei. Mas na igreja de Viseu, durante os Jardins Efémeros, foi uma das experiencias mais gratificantes que vivi este ano.
No início do ano encontrei-me com General D em Londres. Uns meses depois ele estava em Lisboa a apresentar-se ao vivo, depois de muitos anos ausente. Foi emocionante.
Nas minhas deambulações de fim de semana para fora de Lisboa provavelmente o álbum que mais rodou foi “Atlas“ dos Real Estate, música descomprometida, solta e jovial, e onde me revejo mais, na forma como se conjugam o familiar e aquilo que ainda não tem nome, foi em FKA Twigs, Shabazz Palaces e Arca.
Em tempo de hostilidades vale a pena entrar num casulo silencioso chamado “Ruins” de Grouper e para enviar rosas aos falsos amigos – muito piores que os inimigos – vale a pena embrulhá-las em Iceage. Gostava de ter queimado energia num concerto rock, mas para pena minha foi raro. Valeu-me a pista de dança. Daniel Avery, por exemplo, no Lux, em Março. Ou Jon Hopkins em Barcelona.
Nos últimos anos, de ano para ano, lá vou ouvindo que a música está cada vez mais irrelevante, que já não tem a faculdade de mudar a vida de ninguém quanto mais do mundo, e lá vou constatando que ela lá me vai salvando a vida.
1. FKA Twigs – LP1
2. Bruno Pernadas – How Can We Be Joyful…
3. Grouper – Ruins
4. Shabazz Palaces – Lese Majesty
5. Perfume Genius – Too Bright
6. Flying Lotus – You’re Dead
7. Real Estates – Atlas
8. Arca – Xen
9. Adult Jazz – Gist Is
10. Todd Terje – It’s Album Time
11. Aphew Twin – Syro
12. Caribou – Our Love
13. Iceage – Plowing Into The Field Of Love
14. Wildbirds & Peacedrums – Rhythm
15. Rodrigo Amarante – Cavalo