[capa da edição britânica em DVD] |
Uma pequena pérola a descobrir no TVCine: Turks & Caicos, do dramaturgo e cineasta inglês David Hare — esta crónica de televisão foi publicada na revista "Notícias TV", do Diário de Notícias (19 Setembro), com o título 'O Paraíso televisivo'.
Sejamos realistas: o título Turks & Caicos não será fácil de promover, mesmo para o mais inventivo dos profissionais de marketing. É bem verdade que não há nele nada de fantasioso ou esotérico, apenas a designação de um grupo de pequenas ilhas britânicas das Antilhas, conhecidas pelas suas praias paradisíacas e também pelo requinte das respectivas instalações hoteleiras. Em todo o caso, vale a pena sublinhar o mais simples: numa paisagem dominada pelas rotinas das ficções “telenovelescas”, a estreia do telefilme Turks & Caicos (TVCine) é das poucas coisas empolgantes que, em tempos recentes, aconteceram na televisão portuguesa.
David Hare |
Que o seu autor seja o inglês David Hare, notável dramaturgo e cineasta (lembram-se de Whetherby, com Vanessa Redgrave?), distinguido com o prémio PEN/Pinter de 2011, eis o que implica uma trágica limitação: qualquer infeliz participante de A Casa dos Segredos que acumule banalidades discursivas terá sempre maior protecção mediática que o Sr. Hare, obviamente suspeito de ser um perigoso intelectual...
Turks & Caicos é uma produção da BBC que, em registo de thriller psicológico, narra as aventuras e desventuras de Johnny Worricker (Bill Nighy). Naquelas ilhas, rodeado de personagens algo suspeitas, num clima em que qualquer cedência romântica pode ser fatal, ele enfrenta as consequências do seu afastamento dos serviços de espionagem do MI5, ao mesmo tempo decifrando o labirinto apátrida da circulação de grandes fortunas. Aliás, Turks & Caicos é o objecto central de uma trilogia “Worricker” que começou em 2011 com o igualmente brilhante Página Oito (também já exibido pelo TVCine), para se vir a concluir com Salting the Battlefield.
Com um elenco de luxo que inclui Christopher Walken, Helena Bonham Carter e Winona Ryder (por certo numa das mais elaboradas composições de toda a sua carreira), Turks & Caicos envolve a prova muito real de que é possível fazer televisão a partir de matrizes genuinamente populares, sem ofender a inteligência dos espectadores.