A avalanche de rótulos parece-me sempre, confesso, tão sedutora quanto desgastante. Techno. House. Dub. E esse consagrado prodígio de irrisão simbólica que é: Industrial Music. Enfim, sem querer ser mais papista que o Papa, não posso deixar de reconhecer que todos eles assentam como uma luva nas estranhas e envolventes sonoridades de Vessel, projecto de Bristol gerado por Sebastian Gainsborough.
Isto sem esquecer, claro, que a atracção ruidosa das matérias informes arrasta a mais agreste das classificações: noise (termo que, convém não simplificar, anda por aí desde as experiências de alguns futuristas, no começo do séc. XX). Além do mais, o primeiro álbum de Vessel, lançado em 2012, respondia pelo título esclarecedor de Order of Noise.
Enfim, é disso que continua a tratar-se. O segundo registo de Vessel, Punish, Honey, agora editado pela Triangle, apresenta-se como a consagração de uma ordem do ruído que, para mais, numa contundente reivindicação poética, se intitula a partir de duas palavras retiradas de um verso de Emily Dickinson [In vain to punish Honey]. Para que conste, aqui fica o muito concreto, espectacularmente abstracto, Anima, na certeza (reconfortante) de que qualquer rótulo é insuficiente.