Fotos: NG |
Uma ideia nova a partir de hoje no Sound + Vision. Histórias e imagens de viagens. E para começar a memória de uma tarde na capital tailandesa em que, ao lanche, foram servidos... queques. Sim, queques.
O barco é, por
vezes, a melhor solução para andar mais depressa em Banguecoque, naturalmente se os
lugares de partida e destino estiverem à beira-rio. O rio Chao Phraya, que nasce no
centro do país e passa por Ayutthaya (a antiga capital, à qual os portugueses chegaram
há pouco mais de 500 anos como primeiros visitantes), define assim uma espécie
de grande avenida de água ao longo da qual Banguecoque cresceu, nas suas margens
morando hoje alguns dos mais célebres e concorridos hotéis do centro da capital
tailandesa.
Naquela tarde
rumava contudo um pouco mais a montante da zona onde se acotovelam os hotéis.
Um pequeno cais, com um edifício de formas bem familiares para um europeu ali
bem perto, indicavam que tínhamos chegado. Lá de dentro ouviam-se cânticos,
também eles familiares na musicalidade, as diferenças (prestando atenção um
pouco depois) morando nas palavras que o coro entoava.
O edifício era o
de uma igreja – construída há 240 anos por um arquiteto italiano a mando de um
padre português -, o centro da pequena comunidade de Santa Cruz que alberga cerca
de 900 cristãos e almas de outras confissões perto do coração de uma cidade
predominantemente budista. E naquela manhã celebrava-se ali um casamento. Ele,
Kowit, um tailandês de 39 anos. Ela, Pham Ti, uma vietnamita cristã de 20. Portas
abertas deixavam ver e ouvir o que se passava. O episódio seguinte adivinhava-se
no adro da igreja, onde entre saquetas de chá e garrafas de refrigerantes havia
bolos de mármore e de banana.
A pequena
comunidade não está ali por obra do acaso, mas sim por via de um terreno cedido
pelo rei tailandês quando a capital se instalou em Bangkok no século XVIII. A
relação entre os dois povos remonta ao século XVI, tendo então assinado um
acordo militar e uma autorização de residência e livre prática da sua religião.
Com capital instalada em Banguecoque depois da guerra que destruiu Ayutthaya, o rei
Taksin concedeu aos portugueses o terreno onde hoje está esta comunidade por
ocasião de uma visita que ali fez em 1764.
Contornada de
pequenas casas e pequenas ruas que dela irradiam (salvo na frente de rio onde
há um cais), a igreja define o centro de uma comunidade onde há uma escola (com
as palavras Santa Cruz bem evidentes sobre a porta) e as heranças portuguesas
se materializam também numa pequena fábrica de bolos que encontramos nas suas
traseiras.
Queques... Um
homem de ascendência portuguesa, com 48 anos, conta que o seu irmão chegou uma
vez a ir a Lisboa, onde provou e comparou esses outros queques de que ouvira
falar. Os de Banguecoque são uns descendentes, com um sabor mais açucarado (lembram
as cavacas das Caldas) e uma textura que parece a do Pão de Ló. A maior
originalidade são as passas de uva...
Comecei a
entender porque os tailandeses que ia conhecendo falavam tantas vezes de
doçaria quando se referiam aos portugueses. Tinham mencionado, com particular
orgulho, de um outro descendente, os foi thong, nada mais senão descendentes
diretos dos fios de ovos (que monges portugueses terão levado para aquelas
latitudes há alguns séculos) e que, de diferente face aos que aqui conhecemos
têm uma presença do jasmim no tempero. Mas essa história fica para um outro dia...
Na imagem que abre o posto vemos Santi, um dos líderes daquela comunidade na capital tailandesa, mostrando um dos queques que ali são diariamente produzidos. Nas três imagens mais abaixo vemos a Igreja de Santa Cruz, espreitamos o casamento que ali decorria e olhamos em volta para ver o bairro em redor da igreja.
Na imagem que abre o posto vemos Santi, um dos líderes daquela comunidade na capital tailandesa, mostrando um dos queques que ali são diariamente produzidos. Nas três imagens mais abaixo vemos a Igreja de Santa Cruz, espreitamos o casamento que ali decorria e olhamos em volta para ver o bairro em redor da igreja.