terça-feira, julho 01, 2014

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Gus Gus, Mexico

Gus Gus
“Mexico”
Kompakt / Flur
3 / 5

Já lá vão quase 20 anos desde que nos Gus Gus reconhecemos uma das primeiras forças da cultura pop islandesa a romper a distância que antes nos separava do que ali acontecia. Da terra de onde, até então, nos havia chegado a música de Björk (Sugarcubes incluídos) e pouco mais, o coletivo (de line up variável) trouxe-nos uma visão electrónica nova e desafiante, com resultados particularmente cativantes quando, ao segundo álbum – This Is Normal (1999) – afinaram uma arrumação de ideias no formato de canção (nascendo aí pérolas maiores daquele tempo como Ladyshave, Starlovers ou o mais textural e melancólico Bambi). Os anos foram passando, o grupo foi conhecendo novas formações e ensaiando caminhos, reencontrando um rumo iluminado quando, em 2009 surgiram no catálogo da Kompakt Records, apresentando em 24/7 uma expressão renovada das suas ideias. Depois de um (comercialmente bem sucedido) Arabian Horse (2011), os Gus Gus – que mantém o núcleo central em volta dos fundadores Daniel Agúst Haraldsson, Birgir Pórarinsson (que colaborou no mais recente álbum de John Grant) e Stephen Stephensen, completando-se o quarteto atual com Högni Egilsson – continuam em Mexico o caminho encetado há cinco anos. O disco é, salvo o tema-título, um álbum vocal, com canções de formas claras e polidas com duração próxima dos cinco a seis minutos (longe, por isso, dos ensaios mais longos do disco que os estreara na Kompakt). A presença de três vozes em cena amplifica a paleta de cores que se juntam a canções que partem de uma estrutura pop mas vestem sobretudo referencias escutadas entre a house e o eletro, numa linha que toma como paradigma o brilhante Add This Song que serviu de cartão de visita ao álbum de 2009. Entre a cadência convidativa e a narrativa que sugerem em Obnoxsiously Sensual, a deep house musculada de Another Life e a pop vitaminada a pulsão eletro de Crossfade (o melhor tema do disco) revelam-se novos sinais de vida num coletivo que descobriu, como em tempos nos ensinaram os New Order e Pet Shop Boys, que nas formas em invariável evolução da música de dança podem encontrar-se caminhos estimulantes para novas reinvenções da canção. O alinhamento nem sempre repete o patamar de inspiração maior destes temas, mas Mexico não deixa de ser mais um episódio digno numa carreira já veterana e ainda capaz de nos surpreender.