Médium ou, como o próprio autor esclarece, "pessoa susceptível de, em determinadas circunstâncias, entrar em contacto com os espíritos (do latim medius, no meio)". No novo livro de Philippe Sollers, tudo é ou pode ser mediação — e a sua resistência.
Prolongando a lógica fragmentária de exercícios anteriores, como L'Éclaircie ou Portraits de Femmes, o autor fala de uma mulher como medium de outra, de um desejo de escrita como marca de uma obstinada intransigência cultural, de Veneza como duplo de Paris, ou o contrário — enfim, de Veneza, sempre Veneza, como medium de Veneza, a ponto de "o narrador ser um medium que descobre a sua própria capacidade de mediação em função das respostas que recebe".
Prolongando a lógica fragmentária de exercícios anteriores, como L'Éclaircie ou Portraits de Femmes, o autor fala de uma mulher como medium de outra, de um desejo de escrita como marca de uma obstinada intransigência cultural, de Veneza como duplo de Paris, ou o contrário — enfim, de Veneza, sempre Veneza, como medium de Veneza, a ponto de "o narrador ser um medium que descobre a sua própria capacidade de mediação em função das respostas que recebe".
Philippe Sollers |
Daí também as personalidades que Sollers convoca para ocuparem a posição de medium literário, funcionando como inspiração e observadores transcendentais da sua própria escrita: Saint Simon (1675-1755), que viveu em Versalhes, "então o centro do mundo" (por assim dizer, medium de todas as formas de poder e saber); e o Conde de Lautréamont, aliás, Isidore Ducasse (1846-1870), autor dos lendários Cantos de Maldoror. Em particular através de Ducasse, Sollers revê, sob a serena concordância das águas de Veneza [video de G. K. Galabov e Sophie Zhang], a tragédia contemporânea do Diabo dominante e de um Deus humanamente iludido, condenado a assumir-se como Diabo para lidar com os horrores do mundo que deserdou.
Livro simples e sublime, conciliando a leveza da crónica e a contundência da epopeia, Médium procura, no limite do vazio contemporâneo, a possibilidade de renovação do voto de Pascal: "Quem tiver encontrado o segredo de se alegrar com o bem sem recusar o mal contrário, terá encontrado o equilíbrio. É o movimento perpétuo".