Owen Pallett
“In Conflict”
Domino Records
5 / 5
No meio de um panorama onde tanta música surge de todos os ângulos possíveis, com uma esmagadora maioria de autores de canções a fazer pouco mais que reutilizar modelos, acolher (e eventualmente assimilar) heranças ou mesmo decalcar fórmulas, são raros os casos em que uma voz se destaca pela firme expressão de uma identidade diferente. Sem querer fazer contas a quantos entre os “diferentes” por aí fazem discos no nosso tempo, a verdade é que em Owen Pallett podemos encontrar um deles. Descobrimo-lo há quase dez anos, quando gravava discos sob a designação Final Fantasy e colaborava regularmente com os Arcade Fire ou Hidden Cameras, todos eles seus compatriotas (canadianos). A edição dos álbuns Has A Good Home (2005) e, sobretudo o magnífico He Poos Clouds (2006) colocaram-no no mapa dos cantautores do novo século, desde cedo ficando claro que a sua “voz” procurava um caminho particular, que tinha na sua relação com o violino (como instrumento principal) e na criação de loops as suas ferramentas primordiais. Em 2010 passou a gravar com o seu nome, numa altura em que os seus serviços como arranjador de cordas começaram a ser solicitados por tantos como, entre outros, os Pet Shop Boys, Duran Duran, Last Shadow Puppets ou The National. Este ano ouvimo-lo no cinema quando, ao lado de Win Butler, assinou a banda sonora de Her, de Spike Jonze (que lhe valeu inclusivamente uma nomeação para o Oscar de Melhor Banda Sonora). Agora, e ao mesmo tempo que apresenta um single com Daphni (na verdade um dos alter-egos do mesmo músico que muitas vezes conhecemos como Caribou) regressa aos discos em nome próprio. E em In Conflict apresenta uma belíssima coleção de canções nas quais, ao juntar uma mais expressiva carga instrumental (electrónicas, baixo e bateria) encontra um patamar quase pop. A sua forma de compor (que deve muito a um modo de entender uma construção de elementos por camadas de acontecimentos) e uma relação segura com a voz conhecem aqui um espaço de maior luminosidade e fulgor rítmico, de que podemos tomar como paradigma em Song For Five and Six, que serviu de single de antecipação. Longe de repetir os caminhos desta canção, o alinhamento segue contudo a vontade de explorar as potencialidades dos recursos e mostra como, depois de em 2006 ter concebido em He Poos Clouds um conjunto de composições que podíamos juntar como nos ciclos dos tempos de Schumann e Schubert, agora em Owen Pallett encontramos uma voz capaz de encontrar as sensações da pop numa música que em nada segue tendências, denominadores comuns ou lógicas que não as que o músico decide executar (e que não deixa de lado um saber cenográfico que, dos espaços ambient à sugestão de música orquestral, refletem a solidez do labor do arranjador que, desta vez, trabalhou para si). Monumento pela reinvenção da canção, In Conflict será certamente um dos discos de canções de sabor mais apurado que vamos escutar este ano.