quinta-feira, março 06, 2014

Sete fotogramas de Alain Resnais (3)

Na morte de Alain Resnais, as suas imagens contam-nos a história, necessariamente condensada, de uma visão cinematográfica que, embora ancorada no classicismo, abriu portas para a mais frondosa modernidade.

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* A GUERRA ACABOU (1966) — No cinema de Resnais, as mulheres relativizam qualquer olhar masculino, mesmo se não o negam explicitamente — muitas vezes são um espelho desencantado dos seus impasses. O abraço de Ingrid Thulin a Yves Montand, o militante comunista cansado com a evolução das lutas políticas (num tempo, agora sabemos, premonitório de Maio 68), possui a suprema ambivalência do romantismo à la Resnais: a cumplicidade não aquece os corpos, expondo a solidão de que o amor também se faz. Há outra maneira, política sem dúvida, de dizer isto — são palavras de Jorge Semprúm, autor do argumento, extraídas da sua Autobiografia de Federico Sánchez (1977): "Um dos temas principais do filme é justamente a crítica da palavra de ordem de greve geral, concebida como simples expediente ideológico, mais destinado a unificar religiosamente a consciência dos militantes do que a agir sobre a realidade".