Na morte de Alain Resnais, as suas imagens contam-nos a história, necessariamente condensada, de uma visão cinematográfica que, embora ancorada no classicismo, abriu portas para a mais frondosa modernidade.
* NOITE E NEVOEIRO (1955) — "Mesmo uma paisagem tranquila, mesmo um prado com o voo dos corvos, as colheitas e as suas fogueiras, mesmo uma estrada em que passam automóveis, camponeses e casais, mesmo uma aldeia para férias, com a sua feira e o seu campanário, podem conduzir, muito simplesmente, a um campo de concentração" — é com estas palavras que abre o comentário escrito por Jean Cayrol e dito por Michel Bouquet. O arame farpado de Auschwitz surge, assim, não apenas como um símbolo cru dos horrores da história do Holocausto, mas também como uma matéria que o cinema reconverte em força de imagem e exigência de memória: não há muitos filmes capazes de se envolver, assim, com o assombramento da história dos homens e, mais especificamente, com o núcleo traumático do séc. XX.