Apesar de não serem muito frequentes, as colaborações entre nomes dos espaços da música pop/rock e os dos universos da música (dita) erudita não são também oásis assim tão raros. Longe daquelas operações de “encher” canções com orquestra, que tantas vezes dão a vozes da pop uma cenografia mais encorpada para alguns momentos da sua carreira, falamos mesmo de diálogos entre músicos e formas musicais. Como o fez Philip Glass em Songs From Liquid Days ou na sua brilhante colaboração com Leonard Cohen em Book of Longing. Como o tem feito Nico Muhly em parcerias com vários outros músicos. Como o fizeram Rufus Wainwright, The Knife ou Damon Albarn ao ensaiar os espaços da ópera. Como o fazem Owen Pallett ou Craig Armstrong. Ou até mesmo (mas decididamente com resultados menos estimulantes) Paul McCartney ou Sting. Bryce Dessner e Johnny Greenwood são figuras de referencia no firmamento indie do nosso tempo, o primeiro a bordo dos The National, o segundo nos Radiohead (e já com algum trabalho reconhecido na escrita de música para cinema). Apesar de uma certa tradição autodidata que domina muitas das histórias pessoais de tantos músicos em terreno pop/rock, a verdade é que tanto Bryce Dessner como Johnny Greenwood têm formação clássica. Bryce tem na verdade um mestrado em música em Yale e durante a sua formação encontrou importantes referencias em obras de figuras como Morton Feldman ou Steve Reich. Além do trabalho com os The National tem também colaborado com os Bang on a Can e o Kronos Quartet. O seu St Carolyn by the Sea (título inspirado pela escrita de Kerouac), que aqui se apresenta em gravação pela Orquestra Filarmónica de Copenhaga, dirigida por Andre de Ridder é uma obra orquestral de grande fôlego que cruza heranças que cão dos românticos a espaços da música orquestral do século XX (de Bartók a Glass) e, sem abdicar da presença da guitarra (na verdade há duas guitarras em cena – interpretadas por si e pelo seu irmão Aaron – e são mesmo a medula desta obra originalmente encomendada como um concerto para duas guitarras elétricas para a American Composer’s Orchestra) nem de um interesse pela melodia, expressa personalidade e demarca-se dos territórios habitualmente por si visitados nos The National. Johnny Greenwood, por seu lado, explora aqui uma derivação direta do seu trabalho de composição para cinema, apresentando uma suite baseada na música intensa e cromaticamente rica, herdeira tanto de Ligeti como de Predrecki, que criou para o filme Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson. Ambas as peças representam assim aberturas de horizontes tanto para os compositores como para o catálogo da editora e os públicos que a estas gravações possam aderir. Sem dúvida um acontecimento editorial para marcar 2014.