O Céu sobre os Ombros é um dos filmes lançados pela distribuidora Nitrato Filmes, de Américo Santos, director do Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira. O seu objectivo principal: dar a conhecer títulos da mais recente produção do Brasil. Entre as obras já lançadas, incluem-se Riscado, de Gustavo Pizzi, e O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 Março).
Por vezes, há filmes que, na sua fragilidade, parecem corresponder a um genuíno projecto de cinema. O Céu sobre os Ombros, do cineasta brasileiro Sérgio Borges, é um desses filmes. O seu retrato de três personagens de Belo Horizonte apresenta-se num misto de fragilidade técnica e narrativa, como se estivesse à procura da estrutura exacta para dar conta da teia social de tão diferentes destinos; ao mesmo tempo, dir-se-ia que assistimos ao nascimento de personagens que nos atraem (e intrigam) pelas dores, alegrias e desilusões que nelas pressentimos.
Sérgio Borges |
Sérgio Borges aproxima-se das suas histórias combinando um olhar documental — por vezes, experimentamos mesmo a sensação de seguir os sobressaltos de uma reportagem — com os artifícios próprios da ficção. Dito de outro modo: todos eles poderiam ser reduzido a clichés mais ou menos simplistas de uma existência algo marginal, se não no plano social, pelo menos no domínio afectivo; o certo é que as singularidades das respectivas experiências lhes conferem uma marca irredutível, impossível de esgotar a um destino determinista.
Tanto quanto podemos perceber pelos ecos que nos chegam do outro lado do Atlântico, no contexto da produção brasileira dos últimos anos, O Céu sobre os Ombros afirmou-se como exemplo de um olhar cinematográfico em que a urgência do retrato social não exclui a possibilidade de elaborações narrativas mais do lado da ficção. Foi o grande vencedor do Festival de Brasília de 2010, arrebatando cinco prémios, incluindo o de melhor filme do certame. A sua estreia no nosso país é também uma porta aberta para uma cinematografia de que, afinal, permanecemos muito distantes.