quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Shirley Temple (1928 - 2014)

Figura ímpar do início do cinema sonoro, foi a mais célebre estrela infantil de Hollywood: Shirley Temple faleceu no dia 10 de Fevereiro, na sua casa em Woodside, California — contava 85 anos.
Quando evocamos Shirley Temple, é inevitável pensarmos num contexto histórico e cinematográfico impossível de extrapolar para o nosso presente. Desde muito cedo vestida pela mãe à maneira de Mary Pickford, incluindo o cabelo aos caracóis, ela foi uma das crianças a participar na série Baby Burlesks (1932-1933), produzida por Jack Hays, com realização de Charles Lamont: em episódios de cerca de 10 minutos (correspondentes a uma bobine de película), cenas da actualidade, por vezes remetendo para a própria indústria cinematográfica, eram recriadas, em tom satírico, por crianças — eis Kid'n'Hollywood, sobre os bastidores de um casting.


O talento de Shirley Temple, a sua capacidade de cantar, dançar e, mais do que isso, contracenar com os actores adultos, rapidamente lhe trouxeram uma popularidade invulgar, suscitando o interesse dos grandes estúdios. Little Miss Marker/Shirley em Penhor, de Alexander Hall, Baby Take a Bow/A Menina dos seus Olhos, de Harry Lachman, ou Bright Eyes/Shirley Aviadora, de David Butler, todos com data de 1934, são alguns dos títulos que a transformaram num dos grandes fenómenos populares de uma época socialmente marcada pelos efeitos dramáticos da Grande Depressão — de Bright Eyes, esta é uma das suas canções mais conhecidas, On the Good Ship Lollipop.


Reconhecendo o seu impacto, a Academia de Hollywood viria a distingui-la no ano seguinte com o chamado "prémio juvenil", um Oscar simbólico (mais pequeno que o normal) que lhe foi entregue na 7ª cerimónia dos Oscars, realizada a 27 de Fevereiro de 1935 — completaria 7 anos cerca de dois meses mais tarde, a 23 de Abril.


Curly Top/A Menina dos Caracóis (1935), de Irving Cummings, Dimples/A Princesinha da Rua (1936), de William A. Seiter, ou Heidi (1937), de Allan Dwan, consolidaram o encanto de Shirley Temple. Com o sucesso dos seus filmes — liderando mesmo, durante alguns anos, as bilheteiras — tornou-se também um símbolo universal do entertainment, a ponto de ter sido representada por Salvador Dali, em 1939, numa colagem frequentemente referida como a Esfinge de Barcelona.


Assim como actores e actrizes do cinema mudo tiveram dificuldade em adaptar-se às reconversões impostas pela generalização do som, Shirley Temple ficou para sempre "prisioneira" da sua imagem infantil. É certo que, ainda adolescente ou já jovem adulta, continuou a trabalhar, por vezes participando em títulos importantes como o melodrama Since You Went Away/Desde que Tu Partiste (1944), de John Cromwell, ou o western Forte Apache (1948), de John Ford. Em todo o caso, a discreta performance comercial da maioria dos filmes que ia fazendo e também algumas desilusões de carreira — incluindo o facto de não ter sido escolhida para uma versão de Peter Pan, na Broadway — levaram-na a assumir, oficialmente, a sua retirada — foi a 16 de Dezembro de 1950 (tinha, portanto, 22 anos). O seu derradeiro filme a estrear seria A Kiss for Corliss/Consequências de um Beijo (1949), de Richard Wallace. Em 1988, publicou a autobiografia Child Star.


Usava o apelido Black, do seu segundo marido Charles Alden Black, empresário californiano com actividades no domínio da aquacultura (faleceu em 2005, contava 86 anos). Shirley Temple acabou por desenvolver uma multifacetada actividade política, tendo sido militante do Partido Republicano. O último cargo oficial que desempenhou foi o de embaixadora dos EUA na Checoslováquia (1989-1992). Em 2005, foi distinguida com um prémio honorário do Screen Sctors Guild — eis o respectivo registo televisivo.


>>> Obituário no New York Times [video].