quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Novas edições:
Wild Beasts, Present Tense

Wild Beasts 
“Present Tense”
Domino Records
4 / 5 

A presença no som de uma banda de um elemento sonoro mais invulgar poder transformar-se no melhor ou no pior da sua identidade e obra. E no departamento vocal a coisa por vezes torna-se particularmente notada. Se com os Sparks a voz de Russel Mael se afirmou mesmo como um dos seus mais importantes fatores de afirmação de identidade, outros casos houve em que uma postura vocal menos “habitual” se revelou antes um beco de difícil saída. Os Wild Beasts podiam ter tropeçado no seu percurso e rumado a este destino, tão evidente que parecia o focar de atenções na (invulgar) prestação vocal de Hayden Thorpe, um dos fundadores desta banda do nordeste inglês que se estreou nos álbuns em 2008 com Limbo Panto. Por essa altura a voz e a angulosidade de canções bem polidas eram ingredientes centrais na música do grupo, o percurso que se seguiu, entre os álbuns Two Dancers (2009) e Smoother (2011) mostrando tranquilos sinais de interessante evolução no plano das ideias e das formas. O novo álbum, ao qual chamaram Present Tense, representa contudo o grande salto há muito esperado. Mais claramente dominado pela presença de eletrónicas é um disco de canções pop bem estruturadas e sonicamente atentas a caminhos do presente (não confundir com a vanguarda da invenção que é, também, naturalmente , coisa do momento em que vivemos). A voz está aqui integrada entre os demais elementos plásticos que definem os novos caminhos para os sons do grupo, mais contidos na expressão de forças primordiais, mais atentos aos detalhes, ao polimento de arestas, ao distinguir do que são as traves mestras da canção e o que representa a sua cenografia (entre os elementos encontrando ordem e entendimento). O apelo algo "Philip Glassiano" dos cenários de Wonderlust (o muito promissor cartão de visita lançado há poucas semanas) cativou atenções. O alinhamento, agora (mesmo com um menor Pregnant Pause que parece mais coisa de discos anteriores que deste álbum), confirma que têm canções para suportar as expectativas lançadas. Entre as comparações já levantadas por muitas opiniões publicadas sobre este disco surgem nomes do presente como Oneohtrix Point Never ou Tim Hecker (o que vinca a noção de relação com o presente que aqui se explora. Mas não deixa de ser curioso notar como, no The Observer, se falou em Talk Talk, o que, mesmo citando uma memória dos oitentas, não deixa de fazer sentido num álbum que tanto concilia o apelo pop de um It's My Life com a afirmação clara de uma identidade não alinhada (não necessariamente os destinos estéticos) como recordamos em Spirit of Eden. Todavia, mais que viver de comparações, Present Tense é evidente expressão de uma alma própria, desenhando mais que nunca em volta dos Wild Beasts uma muito recomendável e distinta região demarcada na pop do presente.