MORANGOS SILVESTRES (1957) |
Grande acontecimento em Lisboa e Porto (e mais algumas cidades): a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.
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Foi a primeira das nove nomeações de Ingmar Bergman para os Oscars, na categoria de argumento original — nunca venceu, tendo recebido o prémio Irving G. Thalberg em 1971. Foi também, paralelamente, o filme que consolidou a sua imagem de autor sem fronteiras. E há, de facto, em Morangos Silvestres um efeito de assinatura a que não podemos deixar de reconhecer um valor fulcral na dinâmica criativa do cineasta. Assim, para contar o reencontro do prof. Isak Borg com as memórias da sua juventude, Bergman elabora um dispositivo, não exactamente de flashbacks, mas de coexistência cénica dos vários tempos narrativos — nesta imagem, por exemplo, Borg e o seu passado encontram-se numa só imagem, conferindo ao ecrã o poder de uma transparência única, impossível de repetir fora da sua superfície de luzes e sombras. Que Borg seja interpretado por Victor Sjöström (1879–1960), um dos génios fundadores da cinematografia sueca, autor de clássicos como O Carro Fantasma (1921) e O Vento (1928), eis o que arrasta um efeito simbólico complementar: afinal, Morangos Silvestres é também uma passagem de testemunho, sem que o discípulo tenha minimizado a herança do mestre.