No último ano ouvimo-lo nas bandas sonoras de filmes marcantes como Lore de Cate Shortland ou Desligados de Henry-Alex Rubin e brevemente será sua a música que vamos encontrar em The Last Days on Mars. A intensa agenda de trabalho que o alemão Max Richter tem hoje no mundo do cinema parece tomar parte significativa do seu tempo e passaram já dois anos desde que assinou um dos mais bem sucedidos títulos da série Re-Composed, da editora Deutsche Grammophon, operando então uma sucessão de transformações sobre As Quatro Estações, de Vivaldi. Antigo elemento do grupo Piano Circus, com o qual encetou a sua discografia, Max Richter herdou claramente para a sua música elementos e referencias de compositores como Arvo Pärt, Michael Nyman ou Philip Glass, que faziam parte do repertório desse coletivo a que pertenceu anos a fio, depois de ter terminando os seus estudos. Foi da assimilação dessas vivências e da demanda por uma “voz” pessoal que nasceu, em 2002, um primeiro álbum assinado em nome próprio, ao qual chamou Memoryhouse. Agora, 12 anos depois, uma reedição devolve esse disco megnífico aos escaparates das novidades, num tempo em que a sua obra discográfca entretanto juntou títulos como The Blue Notebooks (2004), Songs From Before (2006), 24 Postcards in Full Colour (2008) e Infra (2010) e a sua presença no cinema passou já por filmes como Valsa Com Bashir de Ari Folman ou Imperdoáveis, de André Techiné, a sua obra tendo também conhecido já experiências nos campos da ópera e merecido a atenção do MoMA, em Nova Iorque. Memoryhouse – que desde a sua edição em 2002 teve utilização na série documental da BBC Auschwitz: The Nazis and The Final Solution e num dos dois trailers de A Essência do Amor, de Terrence Malick (que concretamente usou o tema November) – representou um momento de afirmação de um caminho tão capaz de mostrar atenção pelas novas formas e tecnologias como ser herdeiro de tradições de outros tempos. Houve quem usasse o termo neoclássico para descrever um disco essencialmente feito de peças instrumentais orquestrais, pontualmente acolhendo a presença de vozes gravadas e também de texturas e outros discretos elementos electrónicos. É um disco que cruza a realidade e a ficção, as várias faixas que apresenta correspondendo ora a reflexos de situações reais ora a ecos da imaginação. Doze anos depois Memoryhouse revela claramente a porta para um mundo que, entretanto, Max Richter aprofundou e desenvolveu. Mas convenhamos que não podia ter começado de melhor maneira.