sexta-feira, janeiro 17, 2014

Bergman x 17 (3)

MÓNICA E O DESEJO (1953)
Grande acontecimento em Lisboa e Porto: a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

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Ironia cruel, sem dúvida: por um lado, Mónica e o Desejo tende a ser visto como um dos mais luminosos filmes de Bergman, exaltando a candura erótica de "um-verão-com-Mónica" (é esse, aliás, o título original) e, pelo caminho, conferindo estatuto de estrela à admirável Harriet Andersson: por outro lado, quando contemplamos algumas das suas imagens — tendo esta um valor especialmente sintomático —, deparamos com os cinzentos (visuais e psicológicos) que nos fazem pressentir que nem tudo vai bem no paraíso. Nesta perspectiva, talvez possamos dizer que a relação Mónica/Harry (ele é Lars Ekborg) antecipa um misto de fascínio e desencanto que filmes futuros iriam confirmar, desenvolver e agudizar: a mulher surge como um corpo inquieto que nem ela sabe decifrar; o homem possui a fragilidade patética de quem olha sem saber ver. Para Bergman, vivemos sempre no avesso do romantismo.