sábado, dezembro 14, 2013
Visões para 2014 ao som de Panda Bear
Começou aparentemente desarrumado. Pensei mesmo se estaria convocando ecos de memórias remotas de uma relação com sons e ruídos que recordamos nos primórdios da obra dos Animal Collective, mas procurando um relacionamento com a arquitetura rítmica que suporta as composições como só hoje Panda Bear o podia fazer... Ele era o protagonista da noite de ontem no Lux, as demais atuações girando em volta de si, mas nele na verdade se congregando as atenções maiores do serão. Afinal havia promessa de revelações. Apenas novas canções. Assim foi. E foi inesquecível.
Ao cabo de duas canções (ainda trazendo talvez a carga de ideias em construção) ficava já clara a ideia de uma demanda distante da que o animara entre os dias de Person Pitch (de 2007, um dos melhores discos da primeira década do século) e Tomboy (de 2011, o seu magnífico sucessor). A nova música era mais intensa, ritmada, mantendo todavia a lógica de arrumação circular e a estruturação repetitiva que conhecemos de várias composições (suas e com a banda). Mas à terceira canção as linhas ganharam maior definição. As electrónicas soaram mais nítidas. As ideias encaixaram e arrumaram. Uma visão pessoal de uma música electrónica de dança servia de base a canções onde a personalidade frágil de Noah ganhava outra solidez sem contudo perder personalidade. Mais adiante um tema parecia nascer de memórias da pop electrónica do início dos oitentas. Como se uma canção dos Human League fosse encontrada no instante em que estava a nascer, o tempo cristalizando ali a essência da sua alma, transportando-a para uma realidade diferente, que emergia assim numa noite lisboeta em pleno século XXI. Mas o melhor chegou depois, com uma balada (mais próxima de ecos dos álbuns anteriores – afinal há uma continuação, há pontes, nem tudo se faz de ruturas). Onde até ali habitara uma música da noite agora brotava uma luz distinta. Suave e aconchegante. Terna e convidativa, capaz de projetar memórias com sabor a ecos dos sessentas. Pensei na maresia de algumas canções dos verões yé yé franceses dos sessentas... A música tem esse poder de despertar relações. Umas intencionais, outras pessoais. Cada qual descobrindo afinal o quando e onde de cada referência ou relacionamento.
No fim, um som contínuo, electrónico, e intenso. Como nos segundos finais do sublime Comfy in Nautica. Não quis perguntar o nome das canções. Nem sei se já têm mais que working titles. Mas a verdade é uma: o próximo disco de Panda Bear, a nascer destas ideias, é algo completamente diferente. E promete. Se promete!