Apesar das ligeiras distâncias geracionais que separam os três compositores e das distintas linguagens musicais em que operam, o conjunto sublinha uma opção clara por uma linguagem não serial, plena de ecos da memória das relações que o cravo teve com a música de outros tempos (o que é particularmente evidente na peça de Rutter), mas sublinhando também espaços de busca de novas formas de abordar a relação com o instrumento. Luminoso e efusivo, o concerto de Françaix destaca a presença do solista, libertando a sua interpretação toda uma carga de memórias que o som do cravo sugere. Bach e mestres do barroco são invariavelmente sentidos entre os caminhos que as composições apresentam, representando contudo o concerto de Philip Glass aquele momento em que mais se nota o estabelecimento de pontes entre essas mesmas cargas e heranças e um presente com uma voz demarcada. Aqui é o instrumento que se adapta à personalidade da escrita, do diálogo nascendo um momento raro de diálogo entre o passado e o presente. Originalmente composto (e estreado) em 2002, o concerto de Philip Glass é expressão natural de uma admiração antiga do compositor por Bach e outros nomes do barroco, mas ao mesmo tempo um exemplo de uma escrita que tanto promove um espaço para a exposição do solista como dá espaço à orquestra para à sua volta poder criar um contexto que tudo arruma no fim.
domingo, dezembro 22, 2013
Um cravo na música do nosso tempo
Um instrumento de um outro tempo em obras do nosso tempo (ou, pelo menos, relativamente recentes). Essa é a ideia que domina o disco que o cravista Christopher D. Lewis protagoniza em conjunto com a West Side Chamber Orchestra (dir. Kevin Mallon) e, pontualmente, o flautista John McMurtery. Harpsichord Concertos junta gravações recentes (efetuadas em setembro do ano passado) de três obras de três nomes marcantes da música do século XX, o alinhamento apresentando a Suite Antique de John Rutter (n. 1945), o Concerto For Harpsichord and Chamber Orchestra de Philip Glass (n. 1937) e o Concerto pour Clavecin et Ensemble Instrumental de Jean Françaix (1912-1997).