quinta-feira, novembro 28, 2013

Novas edições:
Etienne Daho,
Les Chansons de L'Innocence Retrouvée

Étienne Daho
“Les Chansons de L’Innocence Retrouvée”
Polydor
3 / 5

Se bem que tenha sobretudo um impacte doméstico (e quando muito em territórios adjacentes onde domina a francofonia, como em regiões da Bélgica ou Suíça), a pop made in França raras vezes salta das suas fronteiras quando é cantada na sua língua mãe. Houve casos nos anos 60, com Serge Gainsbourg, Françoise Hardy e outros mais. E quando em finais dos anos 90, com os Air ou Daft Punk, o mundo voltou a ouvir notícias (e discos) de música pop francesa, afinal os novos valores apresentavam-se sob piscadelas de olho à língua que de falava no outro lado do Canal da Mancha... Destino algo injusto para um território onde nunca faltaram ideias. É que, entre a geração dos cantautores da idade de ouro (Aznavour, Moustaki, Ferré, Barbara e outros) e as vozes do jazz hip hop dos noventas (com Soon E MC e MC Solaar na linha da frente), a pop francesa nunca deixou de nos dar frutos carnudos. E podemos citar nomes como os Les Rita Mitrsouko, Télephone ou Les Negresses Vertes para recordar um panorama que vibrou nos oitentas e ao qual se juntaram mais recentemente nomes como os de Arthur H, Benjamin Bolay ou mesmo Carla Bruni mas que, salvo em casos excecionais, raramente vence as fronteiras da francofonia. Há contudo um nome maior que podemos ter em conta. E mesmo longe de alguma vez ter conhecido uma exposição pop global, representa aquela que é talvez a voz maior da pop francesa dos últimos 30 anos. Pioneiro de uma visão pop suportada pelas electrónicas na alvorada dos oitentas, editando então álbuns de referência como La Notte La Notte (1984) ou Pop Satori (1986), Étienne Daho alcançou pouco depois o seu momento maior em Paris Ailleurs (1991), o tal disco que teve como single de avanço o tema Saudade e lhe deu pontual visibilidade entre nós (inclusivamente com direito a inesquecível concerto no S. Luiz e a rodagem de um teledisco na Caparica). Por esses dias dava que falar quer pelos discos que fazia quer nas parcerias que o iam juntando a nomes como os Working Week, Bill Pritchard e até mesmo os Saint Etienne, com os quais editou um delicioso EP pop em meados dos noventas. Mas depois a sua carreira perdeu algum viço. E depois da viragem do milénio quase deixámos de o escutar, datando o seu último (e muito discreto) álbum de estúdio de 2007, em 2011 tendo lançado entretanto um registo ao vivo partilhado com Jeanne Moreau e um poema de Jean Genet. Agora, seis anos depois de L’Invitation regressa com um álbum no qual procura claramente um reencontro com a alma pop central da sua obra. Entre descendências diretas do melodismo clássico de Paris Ailleurs e uma arquitetura rítmica que não esquece outras das suas aventuras nos anos 90 (não estamos portanto perante um exercício de nostalgia dos oitentas) Les Chansons de L’Innocence Retrouvée é um disco que, mesmo não acrescentando nada ao mapa da pop atual, se revela afinal o melhor disco de Daho desde o já distante Éden (1996). Contando com colaborações como as de Nile Rodgers (em alta depois do flirt com os Daft Punk) e Debbie Harry (com quem contracena, em dueto, em L’Etrangére) e com breve incursão pela memória eletro pop em Les Chansons de L’Innocence (que surgiu como single de avanço), Daho revela por aqui a tranquila expressão de uma veterania pop elegante. Nem se verga à nostalgia nem procura ser quem não é. É Daho clássico. E outra coisa não lhe pede quem nele reconhece uma força maior da pop made in França.