Cate Le Bon
“Mug Museum”
Turnstile / Popstock
4 / 5
Foi Brian Eno quem em tempos disse que poucos foram os que, originalmente, compraram o álbum de estreia dos Velvet Undreground, mas que todos eles acabaram por formar uma banda. Passaram 46 anos sobre o lançamento e os que, na origem, o compraram (ou seja, em 1967), já formaram as bandas que tinham de formar. Mas a verdade é que o legado dos "Velvets" – que ajudou claramente a definir aquilo que hoje entendemos como “música alternativa” – continua a ser uma das mais vibrantes fontes de inspiração para novas vozes que entram em cena. E um dos mais claros exemplos dessa presença referencial mora no terceiro álbum da galesa Cate Le Bon (sem parentesco com o vocalista dos Duran Duran) que agora reside em Los Angeles, traduzindo também este seu novo disco ecos de alguma luminosidade californiana (que costuma, em muitos casos, ser coisa musicalmente irresistível por aqueles lados). Expressão de uma evolução que parte do mais contido, algo minimalista e magoado Me Oh My (2009), alargando o espectro cénico no belo CYRK (2012), o novo Mug Museum é o melhor álbum de Cate Le Bon até ao momento, não apenas pela bela coleção de canções que nos mostra mas pelo modo como os arranjos continuam a procurar formas de, assimilando referencias e ideias, expressar uma personalidade que, aos poucos, definem cada vez melhor uma região demarcada onde as suas canções habitam. A tal luminosidade californiana não esbate (nem ensombra) uma melancolia que continua a caminhar entre as canções – e que a voz de Cate tão bem expressa. Contando com a presença de Mike Hadreas (do projeto Perfume Genius) em I Think I Knew – belíssima balada que cantam em dueto – o novo Mug Museum procura um espaço que herda dos Velvet Undreground a lógica minimalista e pouco polida das (suaves) guitarras, assim como a busca de um melodismo menos imediato (e tremendamente sedutor), juntando contudo uma mais evidente presença de teclas, na mais suculenta “escola” Stereolab, por vezes atingindo mesmo o patamar do flirt com a pop, como se escuta em I Can’t Help You, um daqueles “achados” que sabem abrir um disco, deixando em nós uma clara vontade em ouvir mais. O alinhamento perde algum gás na sua segunda metade, mas termina com argumentos suficientes para nos assegurar que em Cate Le Bon temos um nome a juntar àquela galeria de grandes cantauroras de alma elétrica por onde caminha também, por exemplo, uma Lisa Germano.